Hades. O inferno da repetição. E a mesma tendência em marketing para 2021

Jesus Bardini
6 min readDec 8, 2020
Hades video game developed and published by Supergiant Games

Final de ano é temporada de posts sobre tendências para 2021, com o marketing não seria diferente e tenho certeza de que vai encontrar muito material interessantíssimo por aí. Mas este ano gostaria de trazer uma abordagem um pouco diferente ao lembrar de uma tendência que nunca deveria sair de moda para todos os profissionais e que foi reforçada este ano por conta de um game específico e suas particularidades. Hades é um jogo independente desenvolvido e publicado pela Supergiant Games que foi indicado para a principal categoria de Game do Ano no The Game Awards. Quem já acompanha a indústria há algum tempo, costuma não ligar muito para estas premiações, até porque existem muitas publicações e sites que possuem suas próprias distinções, onde Hades inclusive já foi considerado o game do ano em muitas delas, mas o The Game Awards por ser a, digamos, com maior budget para investir em marketing e transmissão, acaba atingindo uma aura de mais importante para os desavisados, o Oscar dos games, essas coisas.

Bom, independente da discussão, você gamer ou não, deve ter percebido a importância de um game independente ser indicado à categoria mais relevante desta premiação. Então gostaria de trazer com este post, como Hades trouxe insights que impactaram aspectos pessoais e profissionais, e é sobre este último que quero compartilhar um pouco com você.

Um breve parênteses sobre Hades (e sobre repetições)

Alguns deuses mitológicos como Zeus, Dionísio e Hermes vão ajudá-lo nas suas INÚMERAS tentativas.

No filme Tempestade do Século (Storm of the Century, 1999) escrito para TV por Stephen King, o principal antagonista Andre Linoge define o que é o inferno de forma bem simples: “o inferno é a repetição”. Isto não poderia definir melhor este game. Para fugir da casa do seu pai Hades, o protagonista Zagreus precisa cruzar pelas regiões mais famosas do inferno mitológico. Cada sala uma onda de inimigos para impedir seu êxito. Aqui é importante mencionar sobre o gênero roguelite/roguelike do jogo. Toda vez que você falhar, vai ter que passar por todas as salas novamente, mas o caminho nunca é o mesmo. Escolhas, inimigos, posicionamentos e recompensas sofrem pequenas alterações fazendo com que cada tentativa (ou run no vocabulário mais próprio para o game) seja quase que única.

Pode parecer bastante entediante, mas é por meio das várias runs que a história e seu relacionamento com outros personagens se desenvolvem ao desbloquear novas nuances de suas personalidades, do passado do protagonista e suas relações com os deuses. Ou seja, o game é autoconsciente sobre as repetições, elas fazem parte do próprio desenvolvimento da narrativa. Existe outro elemento que sempre vai fazer você pensar: “ok, só mais uma vez”. É a evolução. Toda vez que você falha, nunca sai de mãos vazias. Além de se familiarizar cada vez mais com o padrão de inimigos e funcionamento de armadilhas, você também sempre recebe alguma moeda de troca para adquirir benefícios, como o direito de morrer mais de uma vez durante uma run e outros auxílios que serão muito importantes até que, enfim, você consiga escapar pela primeira vez.

Ok…e o marketing com isso?

Bom, primeiramente existe uma provocação em nossa consultoria que eu gosto muito. Comentamos com alguns clientes que o marketing digital não existe, e que eles apenas precisam aprender a se adaptar ao comportamento digital do seu consumidor. Eu gosto disso porque vejo como um foco que eu posso dar ao meu constante aprendizado sobre marketing. Entenda, por vezes estar atualizado sobre marketing pode ser incrivelmente frustrante. É difícil acompanhar a evolução do tema em tantos setores deste campo de estudo e os sócios-diretores da nossa empresa, que parecem verdadeiras centrais online de novidades sobre marketing, parecem completamente intangíveis. Portanto, se eu fosse ter um foco para acompanhar e me especializar cada vez mais, sem dúvidas, seria sobre o comportamento do usuário. E realizar testes, e testes, e testes e mais testes para jamais tomar alguma decisão com base no achismo é uma forma muito efetiva de tentar entender o que mais faz sentido para o consumidor. E onde foi mesmo que a repetição me trouxe algo de positivo?

Teste. Falhe. Teste de novo. Repita. Você já alcançou o sucesso

Ora, se o game Hades proporcionou insights tão legais para mim, o ato da repetição deve ser natural de uma estratégia de marketing e quero que entenda que jamais deve ser encarado com algo frustrante, tal qual é aparentemente a jornada de Hades, pois bem diferente do mito de Sísifo, o ato de repetir e falhar sempre é acompanhado de uma pequena vitória. Então se as coisas estão meio paradas, que tal testar? E-mails, CTAs, banners, páginas inteiras, títulos de posts, abordagens, posicionamento de botões. Absolutamente tudo pode ser testado. Seja criativo na hora de testar. A repetição da rotina de testes de ideias e ações é a forma que encontrei para estar atualizado ao encontrar soluções efetivas que foram validadas em projetos reais.

Não tenha vergonha de propor ideias, afinal, você pode testar tudo

Para nos adequarmos à vida digital do novo consumidor, precisamos ter ideias, trabalhar em equipe e ter criatividade. Mas lembre-se: por mais original que sua ideia possa parecer, que tal propor ela primeiro como um teste? Realizar um Teste A/B/n, uma das inúmeras maneiras de testagem, hoje em dia é muito simples e inclusive existem plataformas de acesso gratuito que você pode trazer para seu cotidiano. Você pode testar uma nova página inteira para o seu site e mostrá-la para 1% das pessoas que acessam, por exemplo. Verifique bugs, feedbacks, faça ajustes e aumente esta porcentagem até que você tenha uma validação com significância estatística para apontar com segurança que a página que você sugeriu é mais eficaz que a atual. Isto é a criatividade validada por dados. Acho que seu coordenador gostaria muito disso, não é mesmo? E como deu para perceber, você não precisa ter medo de testar.

Para terminar, eu gostaria de fazer um checklist em paralelo com Hades que espero que seja de proveito para sua vida profissional mesmo que seja o mínimo.

· Evolua. Cada morte te deixa um pouco mais experiente no game. Cada vez que um teste falhar, você já eliminou uma hipótese e sua chance de ter sucesso no próximo é maior.

· Cada avanço, por mínimo que seja, é uma grande vitória.

· Teste! Hades tem seis tipos de armas, você tem uma infinidade de ferramentas para testar suas ideias.

· Está tudo bem ser péssimo em algo no começo. O importante é olhar para as falhas e entender o que você pode começar a fazer.

· Se não consegue ou não gosta de algo, não desista. Tente começar entendendo como funciona.

Então, repetindo (sem trocadilhos com o tema principal aqui) o que comentei há alguns parágrafos, é desta forma que eu encaro o constante aprendizado sobre marketing e os desafios que encontro nos clientes que considerei muito bem traduzidos pelo game. Lembre-se que nada é absurdo ou aleatório quando você pode testar e validar! E você tem isto em mãos, aproveite.

Estou na 48ª tentativa de fuga em Hades e pensando no que melhorar na próxima run enquanto escrevo este artigo. Não tenha medo de repetir o ciclo novamente. Se a repetição já é o inferno, quem neste mundo vai te segurar?

Jesus Bardini
Head of Content Marketing & SEO

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